sexta-feira, 4 de setembro de 2020

AO LEITOR

A História Política de Limoeiro do Norte está recheada de fatos e acontecimentos que revelam a forma como o processo se desenvolveu ao longo de mais de um século.
Desde o domínio da família Chaves, iniciada em meados do séc. XIX até hoje, os acordos e conchavos fizeram e ainda fazem parte das negociações políticas para a manutenção do poder.
Se a oligarquia Chaves durou quase um século e já foram decorridos mais de cinquenta anos depois da sua queda, podemos perceber que nada mudou verdadeiramente, apenas o poder foi transferido dando continuidade aos interesses individuais e/ou de grupos.
A presença de Manoel de Castro no processo político de Limoeiro do Norte a partir da queda dos Chaves em 1954, também pode ser considerada uma oligarquia (governo de poucos), e que deu continuidade a uma política que perdura até os dias de hoje. Interessante é que nenhum dos atuais políticos limoeirenses - sem exceção - pode se dar ao luxo de dizer que não tem origem na política praticada por Manoel de Castro, que mesmo tendo encerrado sua vida pública em 1982, na qualidade de Governador do Estado, "encerrando" dessa forma uma atividade política de quase quatro décadas mas que deixou um legado que deverá permanecer ainda por algum tempo.
Os novos nomes que foram tomando conta do poder a partir de 1982, iniciaram o que podemos chamar de um novo CICLO POLÍTICO, e foi daí que a política, se já era voltada para interesses sombrios, tornou-se mais negra ainda, pois as brigas, as fofocas, as futricas e sobretudo os interesses pessoais ficaram mais evidentes. Para eles “brigar” hoje e se “unir“ amanhã se tornou apenas uma questão de conveniência, dependendo do momento.
Os últimos trinta anos foram marcados por um jogo de cumplicidade entre os políticos limoeirenses, embora em determinados momentos eles tenham se proclamado “amigos” apenas para enganar o povo, se o que nunca existiu na verdade foi amizade entre eles, mas sim, a desconfiança generalizada.

“(...) Eles não se entreapóiam mas se entretemem. Não são amigos, mas cúmplices”. (Etienne de La Boétie - Discurso da Servidão Voluntária).

A união propalada em determinados momentos de campanhas eleitorais, nunca representou os anseios do povo, que incrivelmente, foi colocado no jogo cruel e injusto da política limoeirense.
Os atos político-administrativos acontecidos a partir de 1982 e até os dias de hoje, têm sido os mais absurdos em toda história de Limoeiro do Norte. Os mais escabrosos boatos de corrupção, os mais desavergonhados conchavos políticos, a maior falta de respeito ao povo, os maiores descalabros administrativos, se tornaram tão habituais que viraram rotina nos políticos e de tal forma que a população passou a considerar como se fossem ações normais.
Tanto cultuam os atos ilícitos que eles conseguem fazer com que boa parte da população pense em não existir pessoas sérias capazes de administrar o que é do povo com honestidade. O que mais se ouve nas rodas de conversas e com bastante frequência é de que: “todo político é ladrão e que todos são iguais, basta que cheguem ao poder e farão a mesma coisa”.
O ponto a que chegou a consciência do povo como resultado da política que foi implantada nos últimos trinta anos, tornou-se bastante favorável aos maus políticos, pois para eles o que interessa é que o povo continue cada vez mais alienado e sem condições de fazer uma análise crítica da situação, optando sempre pelo pior, sendo assim, bem melhor para eles.
Todos eles e da mesma cepa, praticam e disseminam até hoje, a semente nociva da politicagem e com isso conseguem sobreviver politicamente a ponto de superar até mesmo suas próprias contrariedades.
O agravante é que parte da população, aquela que percebe como o jogo é praticado, fica impotente para reverter o quadro que se apresenta, sem nada poder fazer para deter a facilidade com que agem os pseudo-políticos e a falta de escrúpulos com que mostram suas caras ao povo, sempre com a empáfia de grandes líderes.
Os conchavos e os acordos acontecidos a cada eleição são tão deslavados, que sequer se preocupam em esconder das vistas do povo, o que não se restringe apenas ao uso do dinheiro público, mas a um mal maior, que é a falta de coerência, de sinceridade e de respeito para com o limoeirense.
A propósito: haverá ato de corrupção maior do que corromper consciências?

NOTA* Por achar conveniente - ainda - postei nesse blog somente até o ano de 1982.

Postado por maurilofreitas às 09:10 2 comentários:

CAPITULO XX - 1990 – DISPUTA PARA A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA E CÂMARA FEDERAL

PODEMOS CONSIDERAR que pelo menos até as eleições de 1990 existia apenas um grupo político em Limoeiro fecundado na mente do seu mentor principal Gladstone Bandeira a partir de 1982 e nem mesmo nas oito décadas de domínio dos Chaves até 1954 foram tão explícitos os malabarismos pela ganância do poder. Até aquele instante nenhum sistema político havia escrito com tanta competência uma história de desmandos administrativos.
Com o advento das eleições de 1990 (governador, deputados estadual e federal e senador) se configurou o racha do grupo que se dividiu em duas facções de peso. Nos extremos, Dilmar e Careca: protagonistas de uma cena política assistida pelos limoeirenses em que ambos aproveitavam o momento para medir suas forças junto ao eleitorado.
Para que se desencadeasse realmente numa disputa política foi preciso aparecer candidatos a altura de uma briga que já se tornara um divisor entre o eleitorado.
Foi assim que sobreveio para o cenário político limoeirense o Delegado da Polícia Federal Paulo Carlos da Silva Duarte como postulante a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Filiado ao PDC (Partido Democrata Cristão) e apoiado pela coligação PDT/PDC/PSDB. Recebeu o apoio do prefeito João Dilmar que se colocou à disposição de sua campanha. – Aliás, essa passaria a ser a marca mais forte de Paulo Duarte: aproveitar-se da prefeitura na angariação de votos.
Paulão, como era conhecido na juventude pelas ruas da cidade, passou a ser mostrado nos palanques como uma salutar novidade para Limoeiro onde se propagava a sua condição de Delegado da Polícia Federal e que voltava à sua terra imbuído do propósito de tornar-se seu legítimo representante. Numa visão estreita de bairrista vinda dos patrocinadores de sua candidatura, havia uma conclamação aos eleitores para votar em Paulão e de que o eleitor tinha a obrigação de elegê-lo pelo fato de ser um limoeirense, criando-se inclusive a ideia de que quem não votasse nele seria considerado um anti-Limoeiro.

Para confrontar com as forças ditas “inovadoras” do prefeito e do seu candidato, o Careca, numa tentativa de sobrevivência política, resolveu lançar tambem um candidato e apelou para o seu primo Pedro Julião na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa. Como estratégia, levou para o palanque em forma de propaganda eleitoral, os ressentimentos de ter sido desprezado pela administração bem como o arrependimento de ter ajudado a eleger prefeito um homem que mijou para trás[1], esperando com isso o reconhecimento dos eleitores.
Pedro Julião por sua vez sentindo-se discriminado pelo prefeito acirrava as hostilidades entre este e o Careca e a sua candidatura serviria como um termômetro na medição dos prestígios e das popularidades dos figurões de ambos os lados.
Nesses termos, aquelas duas candidaturas deram para eleição de 1990, as características de uma disputa que se igualou a uma campanha para prefeito, visto que se confrontavam nos palanques as duas maiores figuras da política local, numa verdadeira demonstração de ambições pessoais, subestimando a capacidade do eleitorado e fazendo da seriedade de uma eleição uma brincadeirinha onde cada um queria tirar vantagens e mostrar quem era o mais forte.
O mais interessante era saber que há menos de dois anos estavam todos eles no mesmo palanque em recíprocos elogios, para naquele momento se mostrarem participantes de um jogo de enganação voltando ao cenário de uma campanha para se digladiarem num total desrespeito ao eleitor.
O que se assistiu na verdade foi um espetáculo digno de cinema: de um lado o prefeito Dilmar querendo passar para a população de que Paulo Duarte representava naquele momento a modernidade e o desenvolvimento, ou seja: era o nascer e a confirmação de uma nova fase para Limoeiro. Do outro, o Careca, proclamando-se traído e tentando com isso receber apoio do eleitorado para revidar a traição sofrida pelo grupo de Dilmar a quem agora dizia que o mesmo “tinha cara de boneca” e apresentando como solução o nome do seu primo Pedro Julião, atribuindo a ele, tambem um passo largo para a modernidade e o desenvolvimento do município. Certo de que Julião seria bem votado o Careca levou em conta o grande número de seguidores que lhe devotava fidelidade.
Depois de tanto se aviltarem e se engalfinharem, o resultado final deu a vitória a Paulo Duarte enquanto Pedro Julião garantiu a suplência. Neste primeiro embate saiu bem mais fortificada a liderança de Dilmar, confirmando o seu “carisma” junto ao povo, o que o levou a imaginar haver superado a popularidade de todos os outros políticos, inclusive o anacrônico Careca.
A junção de Dilmar e Paulo Duarte poderia se dizer ter sido um casamento perfeito se tempos depois não tivessem ambos se revelado serem exatamente iguais no que diz respeito à ausência de proposta inovadoras, fazendo regredir o já tão abalado processo político limoeirense.
Ao agirem de maneira a não valorizar os votos recebidos e apelando para a enganação e conversa fiada, a dupla (Paulão & Dilmar) certamente sabia – assim como todos os maus políticos sabem – que ao invés de avaliar propostas de candidatos em campanhas bem como analisar atitudes de candidatos e até dos políticos em geral, o povo na sua indiferença e alienação, prefere muitas vezes partir para opiniões particulares e em casos mais extremos até para as aparências físicas.
Paulo Duarte depois de eleito abandonou o seu partido inicial e filiou-se ao PSDB, já pretendendo usar sempre dos favores dos governos estadual e municipal nas eleições que adviriam.
Como sua primeira demonstração de que iria realmente se transformar no político mais truculento da história de Limoeiro do Norte, voltou à praça pública e quando se esperava um discurso de agradecimentos aos que o elegeram, simplesmente fez um pronunciamento inflamado e dentro de um linguajar literalmente policialesco, atentando contra aqueles que não votaram nele, sobretudo os políticos que estiveram do lado contrário à sua candidatura. Com a aparência de que havia ingerido algumas doses de uísque e fazendo um relato da dura campanha, escarneceu nas suas palavras, principalmente a ex-candidata a prefeita Rita Peixoto por ter apresentado aos eleitores para ser votado em Limoeiro um candidato de fora, (Rita Peixoto, naquele ano, apoiou a candidatura de Antônio Tavares, natural do município de Barros) o que considerava inadmissível, especialmente porque existiam dois postulantes limoeirenses.
No capítulo cômico do seu discurso, chegou a se condoer da situação do seu pai o comparando a um “sebito” fazendo uma analogia entre o pássaro e o físico magro do genitor que estava naquele estado depois de tanto haver trabalhado em favor de sua eleição.
Ao assumir, transformou-se num oportunista de carteirinha, ou seja, se dispôs à cata entre os órgãos do governo se haveria algum benefício para Limoeiro e ao descobrir a sua existência, assumia imediatamente a paternidade do benefício, dizendo para população ser um esforço unicamente seu.
Era tão evidente essa sua faceta demagógica e enganadora que os seus feitos no município nunca passaram de rede de energia elétrica para pequenas comunidades e micro abastecimentos de água através de projetos do governo sem falar em asfaltos nas estradas estaduais; tudo como sendo obra sua.
Em algumas rodas de conversas, quando se fazia referências aos benefícios que Paulo Duarte trouxera para Limoeiro do Norte, alguns mais exaltados chegavam a desafiar o Deputado para mostrar uma única obra que tivesse sido comprovadamente construída com seu esforço.
Desde então Paulão passou a demonstrar a verdadeira característica de sua personalidade política: quando falava era um Paulo Duarte democrático, conciliador, negociador, enfim, imbuído de todas as qualidades de um líder, porém fora do público, não passava de um ditador em suas posições políticas.

Aquela eleição trouxe outra novidade, inicialmente encarada como uma surpresa agradável e benéfica para Limoeiro do Norte. É que postulando uma vaga para a Câmara Federal, apareceu o Engenheiro Francisco Ariosto Holanda se apresentando com um perfil de um candidato sério e sem o desenho do riso fácil, que impressionou rapidamente os limoeirenses. Muito embora sendo desconhecido de grande parte da população, mesmo tendo sido Secretário da Indústria e Comércio do Estado do Ceará, (1987-1989), foi identificado muito mais por pertencer a uma das mais tradicionais famílias limoeirenses, sendo filho de Chiquinho Holanda, irmão de Antônio Holanda, o “Velho da Serra”.
Iniciou sua carreira política com uma filiação de esquerda, ingressando no PSB (Partido Socialista Brasileiro) e para combinar com essa atitude, naquela eleição fez parte da coligação entre PT/PCB/ PSB/PC do B.
Em seus pronunciamentos esboçava uma ideologia contrária ao conservadorismo existente no sistema político brasileiro, posicionando-se tenazmente como um defensor incondicional de medidas inovadoras na solução para os problemas sociais. Assegurava firmemente que grande parte do problema crônico da miséria brasileira seria solucionada através do que ele chamou de “tecnologia de fundo de quintal”, presumindo que cada um, dependendo da vontade e do apoio do poder público, poderia fazer o seu próprio negócio sem que necessariamente tivesse que virar um empresário.
Com a compreensão de uma considerável parcela dos limoeirenses bem como com a ajuda das “lideranças” políticas locais, Ariosto foi eleito para o seu primeiro mandato (1991-1994). Sua primeira atuação na Câmara Federal foi obscura e sem qualquer ato que merecesse destaque, nem mesmo alguma atitude na defesa de suas ideias socialistas tão divulgadas no decorrer da campanha.
Mais adiante, vamos ver que Ariosto Holanda não se preocupou em honrar os sufrágios recebidos dos limoeirenses no que diz respeito à sua atuação como político, o que causou uma decepção naqueles que acreditaram em sua performance de homem determinado em lutar pelas classes menos favorecidas.

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Aqui já nos cabe dizer que nos surpreende a facilidade com que os homens que se dizem públicos manipulam as consciências das pessoas humildes e na busca do poder se imbuem de falsos propósitos que são propagados como solução para os diversos e graves problemas da população.
Para esconder suas falsidades não deixam de serem extremamente cautos em suas mensagens a fim de conseguirem o objetivo que tanto almejam. Estarrece-nos a maneira como conseguem tanta frieza para burilar palavras que não passam de uma profunda e muito bem maquinada demagogia para conseguir o voto, depois vão para seus gabinetes e excluem dos seus discursos aqueles que lhe deram um status de nobreza.
Os acordos costurados e os conchavos feitos à revelia do povo criam entre eles possibilidades de dividir o que é público para usar a bem de si próprios. Nesses conchavos e acordos chegam inclusive ao descaramento de estabelecerem parâmetros de como ficam os cargos, onde cada um dos interessados e com poder de barganha, abocanha a sua fatia no bolo.
Invariavelmente a desonestidade em enganar consciências leva a outro ato desonesto muito mais grotesco e repugnante que é o desvio do dinheiro público. Os que descambam para esse caminho nos faz estarrecidos pelo dom que tem de facilmente conseguir drenar os recursos de um povo para suas contas particulares sem a menor preocupação em esconder dos olhos de suas vítimas. Como se sentem em suas consciências esses homens? Será que não lhes causa remorso por haverem burlado a fé alheia? O pior é que nos parece óbvio inexistir neles o toque da consciência.

[1] Faltou com a palavra dada.

CAPITULO XIX - DILMAR – O “FILHO INGRATO” DO CARECA – UMA ADMINISTRAÇÃO DE AMIGOS

DILMAR INICIOU SEU MANDATO com ares de um governante simpático, carismático e com a performance ideal para naquele momento administrar Limoeiro do Norte.
Chegou à chefia do Executivo Municipal com o auxílio considerável do Careca e ganhou através da popularidade deste o reconhecimento do povo, caso contrário dificilmente teria sido eleito. 
Pretendendo dar ao seu governo uma conotação de modernidade, criou um slogan sugestivo para a sua administração intitulado de Um Novo Momento, indicando que iria conduzir o município para uma fase de pleno desenvolvimento. Com isso, estava querendo repassar para a população que se enterrava de uma vez por todas um passado de administrações arcaicas, inclusive a do seu antecessor, que em nada serviria como exemplo e modelo administrativo.
Imediatamente se fez rodear de “amigos” por todos os ângulos, primeiro, por aqueles que o admiravam como uma “nova estrela” na política limoeirense e depois por aqueles que estão em todas as administrações não importando quem tenha sido eleito. 
Mesmo antes de assumir e necessitando ter do seu lado a maioria dos vereadores e tambem para abrigar no legislativo municipal alguns dos seus seguidores, aproveitou-se de uma brecha na Constituição Federal e incentivou para que estes aprovassem uma emenda, elevando o número de vereadores de quinze para dezenove, o que lhe garantiria no começo de sua gestão o apoio da maioria do parlamento, naquela época, já reconhecidamente fisiológico. A intenção maior, entretanto, era abrigar no legislativo municipal alguns de seus companheiros, dentre eles o amicíssimo Mauro Costa. 
Ao tomar o assento maior do executivo municipal montou uma equipe de assessores inteiramente nova e composta em sua maioria de pessoas que nunca tinham sequer participado de qualquer processo político a não ser daquele que o elegeu. Em virtude disso criou uma administração aparentemente aberta a todas as opiniões, todavia, não passou de uma espécie de colegiado entre parceiros, onde sabiamente cada um lançava mão do seu quinhão na fatia do bolo. 
Em poucos dias de governo Dilmar ousou expulsar, literalmente, da prefeitura os parentes do Careca e a partir de então ficou configurada a briga entre os dois. 
Ao cometer aquele ato de ousadia, em vez de mostrar que se tratava de uma atitude moralizadora, Dilmar não fez mais do que evidenciar uma perseguição àquele que o elegeu, errando por fazer o mesmo quando colocou nos cargos importantes da prefeitura exatamente seus amigos e parentes, dando continuidade ao empreguismo e nepotismo reinantes no executivo municipal. 
Por sua vez, demonstrando-se revoltado e dizendo-se apunhalado pelas costas, Gladstone não poupava críticas ao prefeito, movido tão somente pelos ressentimentos. A partir de então passou a chamá-lo de “cara de boneca”, todavia, mal sabia que estava recebendo o troco por parte daquele a quem sempre considerou um incapacitado para exercer o cargo de prefeito. 
Em pouco tempo tambem ingressou no barco da revolta o vice-prefeito Pedro Julião sentindo-se igualmente discriminado e jogado de escanteio, solidarizando-se com o primo e passando tambem a fazer oposição a Dilmar criticando-o e tachando-o de traidor. 
Para justificar sua identificação com os jovens e com o esporte Dilmar idealizou a construção de um ginásio esportivo nos mesmos moldes de modernidade que vinha pretendendo dar ao seu governo. Justificando de que o município era exemplo de esportividade até mesmo para o Estado do Ceará pela realização dos Jogos Olímpicos Comunitários[1], resolveu valorizar esses jogos hipotecando-lhe total apoio e construindo inclusive uma praça esportiva do nível daquela competição. 
Para impressionar a juventude desportista mandou confeccionar uma maquete expondo-a em praça pública indicando de que seria uma obra ousada e uma vez concluída Limoeiro teria o mais moderno ginásio de esportes do Nordeste. 
A Construção se iniciou num clima de expectativa e com a promessa de ser inaugurada em breve, mas o que se viu foi uma obra inacabada e sobrecarregada de boatos sobre o desvio de pelo menos três verbas que foram destinadas à sua construção. Existe inclusive uma versão de que o então governador do Estado Ciro Gomes, surpreso por aquela praça esportiva não ter sido ainda concluída, mesmo depois de haver carreado recursos para tal, resolveu inaugurá-la assim mesmo, o que realmente aconteceu. 
Ao assumir o governo municipal Dilmar encontrou uma prefeitura com máquinas, equipamentos e outros veículos que serviram durante toda administração, mas que não se preocupou em conservá-los, pelo contrário, ao entregar ao seu sucessor, passou uma frota praticamente sucateada, finanças no vermelho e um volume de boatos jamais visto sobre o uso indevido do dinheiro público, a exemplo do Ginásio Coberto que tornou visível aos olhos de todos tamanha imprudência administrativa. 
Durante sua gestão teve que enfrentar uma greve dos servidores públicos, a primeira na história do município. Contrariando a gestão “democrática” com que apregoava o seu governo se negou receber os líderes grevistas para negociar as suas reivindicações, chegando inclusive a agredir um deles e solicitando a presença policial para afastá-los da frente do prédio da prefeitura. 
De outra feita num surto de total desequilíbrio para um chefe do executivo municipal, ao receber críticas do polêmico Nicanor Linhares foi visto descendo as escadarias do prédio da prefeitura de cinturão na mão, dizendo que “ia dar uma surra em Nicanor” o que não aconteceu em virtude da intervenção de algumas pessoas, alertando-o para a grande repercussão negativa que isso traria ao governo municipal e a ele pessoalmente. 
O que havia sido divulgado durante a campanha pelos adversários de que Dilmar não residia em Limoeiro se confirmou quando o povo ficou sabendo que seu endereço era mesmo em Fortaleza e vinha para o município apenas nos finais de semana, já nos outros dias vinha somente em algum caso em que fosse necessária a presença do prefeito. 
Dentre os assessores mais próximos estava o secretário de administração que recaiu sobre a pessoa de Maílson Cruz, figura conhecida de poucos, mas que em pouco tempo começaram a exaltar as suas qualidades profissionais bem como a sua aguçada inteligência.
A partir dali, Maílson tornou-se uma pessoa forte nas decisões do município e as diretrizes administrativas, obrigatoriamente tinham de passar por seu crivo. 
Foi logo transformado no super-homem da administração, passando a ser considerado o responsável por todas as realizações políticas e administrativas, desempenhando muito bem esse papel e sempre com o respaldo e a anuência do prefeito. 
Apesar de ser visto por alguns como uma figura escamosa dentro da administração, soube usar da sua inteligência para agradar aos bajuladores do prefeito com pequenos favores e ao próprio chefe com a confiança no desempenho do seu trabalho, evitando com isso alguns atritos e ciúmes e o evidente serviço de puxa-saquismo dentro do próprio grupo. 
Sua poderosa atuação naquela administração nos faz lembrar Maquiavel: 
“Aquele que tem o Estado de outrem em suas mãos não deve pensar nunca em si, mas sim e sempre no príncipe (...)” (MAQUIAVEL 1967, 38)

[1] Competição esportiva que acontece anualmente desde 1984 entre as comunidades do município onde disputam diversas modalidades.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

CAPITULO XVIII - ELEIÇÃO DE 1988

O VICE-PREFEITO JOÃO DILMAR chegou ao cargo público pelo caminho que muitos gostariam de chegar, ou seja, recebeu de presente a cadeira de vice-prefeito sem mover uma palha e ainda sem nenhuma representatividade legitimamente popular, com o mérito apenas de pertencer a uma família que deveu total fidelidade a Manoel de Castro, razão pela qual tornou-se afilhado político de dona Osmira que o indicou no pleito de 1982.
Na qualidade de vice-prefeito permaneceu durante todos os seis anos de gestão, totalmente obediente ao Careca para não perder o apoio da máquina administrativa nas eleições que adviriam na qual pretendia ser candidato.
Mostrando-se simpático aos olhos do povo sentiu que tinha condições de conquistar parte do eleitorado esboçando apenas um sorrido fácil, certo de que o povão se inclina a valorizar muito mais a aparência do que conteúdo. Percebeu tambem que o eleitor adora tapinhas nas costas e gosta de ser notado, razão pela qual nunca deixou de cumprimentar quem quer que fosse até mesmo um adversário, absorvendo assim, uma boa dosagem de popularidade.
Ao aproximar-se a eleição de 1988, o Careca estava no seu auge com uma aceitação nunca alcançada por um político limoeirense e sendo considerado pela massa o prefeito mais competente e o administrador público mais eficiente dentre todos os que passaram pela prefeitura, além do mais, mostrava-se completamente imbatível naquela eleição. Obviamente, se fosse por ele, jamais a prefeitura seria entregue a outra pessoa, porém, sabendo ser impossível até mesmo a possibilidade de poder passá-la a um parente próximo, pensou em transferi-la para um elemento que mostrasse ser de sua inteira confiança, na pretensão de continuar de certo modo com o seu controle.
O nome de Dr. João Dilmar no seu entender se encaixava mais ou menos dentro do perfil do que ele imaginava para seu sucessor, levando em consideração de que Dilmar passou o tempo todo sem contestar qualquer dos seus atos e obedecendo cegamente as suas orientações.
Tanta certeza tinha o Careca de que Dilmar não passava de um fracote, que muitas vezes quando a ele se referia o chamava de “garotão” ou “meninão”, insinuando que o mesmo não tinha capacidade para administrar o município, portanto apostar no seu fracasso como administrador poderia lhe render muito politicamente no futuro.
Diante disso e acreditando que Dilmar seria inteiramente manobrável e tambem para cumprir um pressuposto acordo para a eleição que o fez prefeito, pretendendo ainda continuar usufruindo e controlando a prefeitura, o Careca estabeleceu algumas exigências e uma delas era permitir que seus filhos continuassem exercendo os importantes cargos na administração.
Certamente trilhando o adágio popular de que “se apanha moscas com mel e não com vinagre” e no seu estilo de com tudo concordar, Dilmar aceitou essa exigência além das outras, convencendo o Careca de que em sendo eleito atenderia as cláusulas do acordo.
O Careca exigiu ainda que o candidato a vice-prefeito fosse por indicação sua e colocou o seu primo Pedro Julião, outra figura no seu entender domesticável e de fácil comando.
Tão grande era a popularidade do Careca naquele momento que muitos imaginavam não haver quem tivesse a coragem de concorrer com aquele que fosse apoiado por ele, mas o que se viu foi o surgimento de nada menos do que mais quatro concorrentes.

Para manter representação municipal, a oposição em nome dos partidos PDT/PT/PSB, lançou o nome de José Orismilde Moura (PDT) fazendo chapa com Carlos Adalberto Celedônio (PT). É bom lembrar, que mesmo com a pouquíssima vantagem em relação às outras candidaturas a coligação oposicionista conseguiu realizar um comício na Praça da Catedral, onde o número de pessoas presentes foi surpreendente, levando-se em conta o tamanho dos partidos que compunham aquela aliança e as forças políticas adversárias.

Voltou ao cenário político, tentando testar a aceitação do seu nome vinculando-o à eleição passada, Wilson Craveiro Holanda, tendo como vice o professor Arnóbio Santiago, neto do ex-prefeito Sabino Roberto.

Tambem se lançou candidato Sebastião Maia de Andrade juntamente com Wilson Estácio Filho.

Por fim, apareceu o nome da vereadora Rita Peixoto juntamente com o Dr. Reuber, se apresentando como aquela chapa que reunia melhores condições para combater o poderio e a popularidade do Careca.
Quando a campanha chegou às ruas, notou-se de forma evidente a superioridade do grupo da prefeitura sobre todos os outros.
A campanha iniciou-se visivelmente desigual: de um lado, algumas representações tentando dar ao eleitor uma opção diferente e do outro um grupo fortemente equipado com um palanque sustentado pelo dinheiro do próprio povo.
Foi a partir daquela eleição que teve início as contratações de conjuntos musicais e artistas diversos para atrair gente para os comícios, – os denominados showmícios – nos fazendo crer que os candidatos já não acreditavam tanto em suas próprias mensagens.
Muito embora existindo graves suspeitas sobre os desmandos administrativos, o Careca, com seu linguajar distorcido de analfabeto gritava nos microfones do seu palanque como sendo o melhor de todos, mostrando uma superioridade esmagadora e imbatível. Arrogantemente, se autodenominava o político de maior peso eleitoral, arrotando prepotência e dizendo que: “ninguém era mais do que ele e nem nunca seria”.
Já o seu candidato, João Dilmar da Silva, um verdadeiro fracasso em termos de oratória, através de um mal engendrado, fastidioso e inopioso discurso, elogiava e colocava acima de tudo e de todos o nome do Careca, numa demonstração de total reverência, exaltando suas qualidades de grande líder e administrador.
Mesmo com a certeza visível diante de uma vitória histórica em termos de maioria de votos, o palanque da prefeitura não poupava os deboches, chacotas e escárnios sobre a vereadora Rita Peixoto, quando teve o seu nome difamado impiedosamente, espalhando dúvidas inclusive sobre sua feminilidade e fidelidade ao seu marido, ainda mais quando em um de seus pronunciamentos, assimilou o número “11” do cavalo no jogo do bicho com o “11” do seu adversário. Por isso foi revidada com uma resposta de duplo sentido, quando passaram a lhe tratar como uma “égua”, que iria ficar sempre debaixo do cavalo. Além disso, teve que enfrentar a sociedade machista pela sua condição de mulher.
Uma das bandeiras da campanha de Rita era tentar convencer a população de que o candidato do Careca, sequer tinha residência fixa em Limoeiro do Norte, revelando para o povo que o seu endereço era em Fortaleza e era de lá que pretendia administrar o município.
Imaginando ainda que estivesse contando com o apoio do governador Tasso Jereissati, Rita Peixoto promoveu um comício que foi marcado para ter início às oito horas da manhã de uma quarta-feira, na praça da Catedral. Para o desagrado dos que faziam a sua campanha e para a satisfação dos adversários, Tasso Jereissati chegou quando já passava do meio dia, onde uma multidão sob um sol abrasador o aguardava e ao chegar, foi vaiado pelos seguidores de Dilmar. No palanque, Tasso se pronunciou friamente, talvez porque já soubesse através de pesquisas que Rita estava derrotada, mesmo assim, tentou emocionar aos presentes, querendo passar para a multidão que estava ali com o mais alto espírito democrático e referindo-se aos adversários citou a frase célebre atribuída a Voltaire: "Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la”.
Mesmo com a vinda de Tasso, nada impediu que Rita fosse fragorosamente derrotada, conseguindo apenas 24% dos votos contra 53% de Dilmar.[1] Aquela maioria esmagadora confirmou a força do Careca e que sem ela, Dilmar jamais teria conseguido ser tão bem votado.
Mas todo aquele espetáculo, sobretudo do palanque oficial, vivenciado e aplaudido por uma massa completamente desinformada, não passou de um espetacular cenário de fingimento, comprovado pelo rompimento entre Careca e Dilmar logo após a eleição.
Foi com aquela eleição que a situação política de Limoeiro do Norte tendeu a se agravar cada vez mais e doravante vamos ver que as ambições pessoais, as brigas e as futricas se intensificaram entre os que se diziam representantes do povo.

Outro fato digno de registro naquela eleição foi a candidatura a vereador de Joaquim Firmino Neto mais conhecido por Joaquim Louro. Diante das figuras inexpressivas que se apresentavam nos palanques, Joaquim Louro destacava-se pela forma como se dirigia ao povo com um discurso grotesco e extremamente ridículo para um candidato, que em pouca coisa se diferenciava do Careca e até mesmo do candidato Dilmar. Todavia, como uma resposta para a esculhambação que ora se apresentava e pela falta de propostas dos candidatos a vereador e do descrédito dos eleitores no poder legislativo municipal, Joaquim Louro passou a ser o candidato mais ovacionado de todos colocando a sua candidatura em um surpreendente crescimento. Essa expressão “inconsciente” do povo causou uma enorme ciumeira nos outros candidatos, sobretudo quando sentiram que as manifestações eram verdadeiras e que Joaquim Louro poderia ser o vereador mais votado do município. Passaram então a perseguir os votos que poderiam ser dele e no final das contas, Joaquim Louro que já tinha a sua eleição como favas contadas alcançou apenas uma distante suplência com os 245 votos conseguidos.

A Câmara ficou assim constituída:
1. Ademar Celedonio Guimarães
2. Antônio Conrado Maia
3. Antônio Moura da Costa
4. Antônio Pergentino Nunes
5. Carlos Marcos de Souza Nunes
6. Elias Correia Lima
7. Francisco Assis de Freitas
8. Francisco Mauricio Rodrigues
9. Francisco Rodrigues Neto
10. Gaudencio Roque do Carmo
11. José Maria de Andrade
12. José Valce de Castro Moura
13. Marcos Coelho
14. Maury Oliveira Freitas
15. Raimundo Nauto de Oliveira
16. Raimundo Nonato da Costa
17. Raimundo Nonato de Moura
18. Raimundo Valdi Chaves
19. Rufino Rubio Vieira e Silva

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A derrota de Rita Peixoto demonstrou toda a força do Careca naquele momento, e indiscutivelmente, teria elegido qualquer nome que fosse por ele apoiado. Tambem deixou bastante claro como se processavam as campanhas políticas em Limoeiro, percebendo-se que as personagens daquele jogo integravam o mesmo grupo. Em 1982, Rita Peixoto foi uma fortíssima aliada do Careca e acredita-se que sem o seu apoio, a eleição teria sido ainda mais difícil.
Naquela campanha, Rita e Laurinho estavam de tal maneira engajados na eleição do Careca, que montaram até um trio elétrico – novidade na época – e Rita, então candidata a vereadora, percorria festivamente as ruas da cidade. Nesse caso, tambem fizeram parte da política limoeirense nos mesmos moldes de todos os outros, sem moral, portanto para romperem de forma confiável perante o povo.
Aliás, a família Freitas Peixoto, através de Laurinho, irmão de José Hamilton, foi sempre aliada de Manoel de Castro, portanto tambem beneficiada com os cargos públicos com os quais Castro costumava distribuir entre seus seguidores.

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Nesse ano começou a atuação política do Partido dos Trabalhadores em Limoeiro do Norte. Fundado no ano de 1985, o que poderia ser uma agremiação para agregar os insatisfeitos com o sistema, transformou-se no decorrer do tempo em um partido de aluguel, emprestando sua marca, cada vez mais forte sob os reflexos do próprio partido nacional e mesmo testemunhando a evidência de que tenderia a crescer a partir de então, sempre esteve do lado do sistema, costurando acordos e alianças, muitos desses acordos, feitos de forma desnecessária e inexplicável.
Vamos ver que em todas as eleições, o Partido dos Trabalhadores nunca se preocupou com o seu próprio crescimento. Em momento algum, seus componentes maiores, se preocuparam em transformar a sigla numa luta forte, oposicionista, capaz de combater o sistema cruel que estava implantado no município. Mas foi contrariando os princípios pelos quais se estabelecia a luta nacional, que os petistas limoeirenses, deixaram propositadamente, que o partido significasse apenas uma agremiação familiar, expurgando dele qualquer elemento que se apresentasse com condições de mudar esse rumo de conchavos e acordos os quais sempre foram marcas na história do partido.
Como prova de que desde o início o PT sempre foi um partido sem compromissos com os seus verdadeiros objetivos, naquela campanha (1988) em que figuravam os candidatos José Orismilde e Carlinhos Celedônio, alguns companheiros afirmaram logo após a eleição, categoricamente, que os petistas, sobretudo os seus dirigentes, votaram não no candidato da coligação, mas sim no candidato da prefeitura, numa total falta de respeito para com aqueles que se engajaram na campanha contra o poder reinante no município.
Essa atitude, já começava a revelar qual o caminho que o PT seguiria a partir daquele momento. Durante todo o decorrer da história, vamos ver que nunca teve a coragem de lançar candidaturas do próprio partido, mas sim participando de coligações, nas quais o que interessava a seus dirigentes era apenas garantir a eleição de um representante da Câmara Municipal além de alguns diferenciados cargos públicos.
Elegeu-se nesse mesmo ano (1988), o vereador Marcos Coelho, que antes de conseguir o mandato, mostrava-se um autêntico político de esquerda, mas – até para comprovar sua identificação com os dirigentes petistas – não passou de um vereador de mandato apagado, e muito mais, rapidamente engajou-se no sistema reinante, tornando-se aliado dele.

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Tambem naquele ano, surgiu em Limoeiro do Norte, uma das figuras mais polêmicas da radiodifusão limoeirense. Vindo dos seringais da Amazônia assumiu os microfones da Rádio Educadora Jaguaribana o controvertido radialista Nicanor Linhares Batista, que em breve se transformaria em um mito em toda região jaguaribana e que viria influenciar contundentemente na política limoeirense.
Com o respaldo do proprietário da emissora, Nicanor começou a direcionar suas críticas aos políticos sem poupar a nenhum deles.
Utilizava o poder da mídia para incentivar desavenças entre políticos conseguindo com isso, fazer vezes de mediador.
Venerado não pelas suas qualidades como profissional do rádio exatamente, mas porque tinham medo da sua língua, todos os políticos limoeirenses – e até alguns do Estado – faziam questão de estar com ele de braços e abraços, quando estabeleciam um jogo de cumplicidades.
Em pouco tempo de rádio Nicanor aumentou consideravelmente o seu patrimônio, tornando-se um homem rico à custa dos níveis altíssimos de audiência, estimando-se que falava para 300 mil pessoas em toda região jaguaribana no horário pico do meio dia.
A propósito, é oportuno o momento para comentarmos um pouco sobre o papel e a função do rádio no trabalho de informar a sociedade. No caso de Limoeiro do Norte as duas mais importantes emissoras de rádio, têm suas histórias[2] de uma prestação de relevante serviço social. Com o passar do tempo, as rádios deixaram de ter importância sumamente social e passaram a ser objeto de faturamento. Em primeiro lugar os antigos donos, sem nenhum compromisso com o trabalho informativo das emissoras e não querendo assumir a responsabilidade de bem administrar, as “venderam” para não limoeirenses, estes comprometidos apenas com o alto faturamento a qualquer custo.
Não restam dúvidas que Nicanor Linhares foi peça fundamental nessa radical mudança na prestação de serviço das emissoras limoeirenses e podemos afirmar que com a sua chegada a radiofonia jaguaribana passou a ter outra história. Com a implantação de programas políticos e que tinha como finalidade faturar cada vez mais, Nicanor acendeu cifrões nas pupilas não só dos proprietários, mas tambem dos outros profissionais do rádio, quando passaram a sentir uma espécie de inveja, o vendo enriquecer tão rapidamente. Impressionados com a facilidade com que Nicanor aumentava os números em sua conta bancária, muitos decidiram se espelhar na sua forma de trabalho, criando um vício falar sobre política em todos os horários. Enquanto isso, os programas populares, ou seja, os tão necessários programas musicais deixaram de ser importantes, posto que, com eles o faturamento além de menor era lento e isso não interessava nem aos maus profissionais e muito menos aos donos das emissoras.

[1]Fonte: http://www.tre-ce.gov.br/tre/eleicoes - Em 22.10.2002 
[2] A Rádio Vale de Jaguaribe foi instalada em 21/01/1956 e a Rádio Educadora em 18/03/1962.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Capítulo XVII - 1ª GESTÃO DO CARECA - 1983/89

AO ASSUMIR A PREFEITURA o Careca sentiu-se inteiramente à vontade e cheio de vaidades, quem sabe pensando substituir a liderança de Manoel Castro, certo de que este teria encerrado a sua vida pública com a última eleição.
Com a pretensão de despontar como uma “nova” liderança, deu o pontapé inicial para o surgimento de um novo CICLO POLÍTICO, açambarcando para si o papel de mentor principal além de implantar uma forma de governo totalitário e altamente centralizador.
Em pouco tempo transformou-se numa figura ambiguamente popular e tornou-se famoso ao registrar a sua marca como governante pelos murros que dava na mesa de seu gabinete quando necessitava lembrar que “era ele quem mandava”.
Grosseiro no falar e áspero no modo de tratar as pessoas costumava colocá-las em um patamar inferior e na maioria das vezes com um tom fortíssimo de deboche, abusando de sua autoridade para aferir aos outros títulos como “doutorzinho, fulaninho, advogadozinho de merda” etc. Por isso e por aquilo, passou a ser odiado por uns e reverenciado por outros e foi com essas atitudes que não tardou a ser considerado de que Limoeiro finalmente descobrira o seu grande administrador.
Aquele que se revelou em 1976 como um autêntico líder em defesa de um povo e com a intenção de derrotar o império de Manoel de Castro em Limoeiro, voltou para se transformar num dos políticos mais insensíveis conseguindo ainda ser visto como o maior representante do povo no momento. Mal sabia ele que iria passar para a história como aquele que iniciou a confecção de um “bolo” o qual teve que dividi-lo com quem tanto subestimou durante o seu mandato.
Comandou a prefeitura com absoluta centralização de poder e não admitia por hipótese alguma que opinassem sobre o que ele devia ou não devia fazer, dispensando totalmente qualquer tipo de assessoria e, se existisse era somente para dizer amém aos seus atos.
Se determinasse ao Setor de Compras a aquisição de algum móvel ou imóvel – um carro, por exemplo – e o responsável por aquele setor ao verificar na Contabilidade não haver mais cobertura orçamentária, comunicava-lhe a impossibiidade de fazer a compra. Nesse caso, respondia irritado que “se virasse”, numa clara demonstração de arrogância e também de ignorância, já que não entendia mesmo "desse negócio de dotações orçamentárias".
Para se ter uma idéia de que ele era o dominador da rotina administrativa, que a prefeitura dispunha apenas de um aparelho de telefone e esse, fixado em sua própria mesa, sendo ele inclusive quem o atendia. Era uma forma de centralizar todos os assuntos e tomar conhecimento do que estava querendo uma pessoa ao ligar para a prefeitura, e dependendo da informação solicitada, respondia com extrema ignorância e estupidez.
Ninguém, ninguém mesmo, tinha o direito de fazer qualquer coisa, ou autorizar quaisquer despesas até as mais insignificantes e fora das funções de um prefeito – um maço de pregos, um carro-de-mão, um quilo de arame etc – que não fosse ele próprio quem o comprasse.
Semi-analfabeto, porém muito esperto e arguto e ainda favorecido pela reformulação na distribuição de recursos para os municípios através do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) quando teve a cota aumentada consideravelmente, instalou na prefeitura uma verdadeira construtora, adquirindo caçambas e máquinas de terraplanagens além de vários veículos.
Inteligentemente, camuflou a administração com uma aparência de modernidade, sobretudo na reforma das praças do centro da cidade e priorizando as estradas vicinais do município, sabendo que isso lhe renderia muito politicamente, tanto que foi o suficiente para ser considerado um excelente administrador.
Pode-se considerar como sua grande obra a reconstrução do Mercado Público, que havia passado uma reforma na gestão de Júlio Eduardo no ano de 1918 e a última em 1948, pelo prefeito Estevão Remígio. Mandou retirar as velhas cruzetas de madeira substituindo-as por estrutura metálica, modificando totalmente a parte interna, porém conservando as fachadas laterais.
Com ele, também se estabeleceu um império de empreguismo nunca visto em Limoeiro do Norte e a prática do nepotismo ficou patenteada através de cargos assumidos por seus parentes e aderentes. Nomeou para o cargo de Secretária de Administração a filha Lúcia, conhecida pela antipatia e arrogância e para o Setor Financeiro o filho Gladis, uma figura ligeiramente simpática e de baixíssima popularidade.
Também foi na sua administração que surgiram boatos de corrupção, superando todos aqueles de que se tinha notícia até então.
Para completar, a sorte lhe ajudou quando o Congresso Nacional teve a idéia de espichar os mandatos dos prefeitos dos municípios por mais dois anos voltando novamente as eleições para prefeito e vereadores separadas dos outros cargos.
As distorções dentro da administração levaram a Câmara de Vereadores a implantar uma oposição fiscalizadora dos atos do executivo que embora sendo minoria, conseguiu levantar denúncias levando ao conhecimento da população alguns atos de desmandos administrativos.
A vereadora Rita Peixoto, na qualidade de Presidenta da Câmara encabeçou essa oposição, mesmo tendo sido sua forte aliada na campanha e agora, praticamente sozinha não tinha forças suficientes para combater o forte poder do Careca.
Para ter uma maioria esmagadora no colegiado da Câmara Municipal, corria à boca pequena de que alguns vereadores recebiam propinas por parte do prefeito, para permanecerem calados sobre as denúncias ou defendê-las se fosse o caso, bem como votarem a favor das matérias enviadas pelo executivo. Desde então, a Câmara Municipal praticamente por inteira, passou a viver às voltas de um esquema de favores e contra-favores, facilitando a ação do executivo sobre os edis e o compadrio, o fisiologismo e o assistencialismo tornaram-se práticas corriqueiras no poder Legislativo Municipal. Por sua vez, grande parte dos vereadores estando corrompida esquecia o compromisso para com o povo e o vicio da gorjeta tornou tão comum que alguns deles chegaram ao descaramento de colocar preço no voto, sujeitando ao executivo a dispor de numerário para aprovar as suas matérias. Um desses vereadores chegou inclusive a declarar numa entrevista de rádio que o seu voto no parlamento estava sempre à venda e o fazia como se fosse uma prática legal.
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E foi nesse clima negro que teve inicio um dos períodos mais conturbados da história política de Limoeiro do Norte. Começava naquele ano de 1982, aquilo que podemos denominar de “CICLO DOS AMIGOS’, pois, muito embora todos eles viessem de uma origem, ou seja, eram crias de Manoel de Castro, mas o encerramento da vida pública do “velho guerreiro” proporcionou uma nova fase na política limoeirense.
Vamos perceber doravante, que os que compunham o “CICLO DOS AMIGOS”, ultrapassaram todos os limites do respeito ao povo e não se abstiveram de costurar acordos espúrios e negociatas nas caladas da noite, muitas vezes vendendo o eleitorado como se fosse boiada em troca de vantagens individuais ou de grupos.
Sem o menor escrúpulo, passaram a praticar promessas demagógicas e vamos ver que a cada eleição, a cada campanha política a situação tornava-se cada vez mais deprimente.
Nenhum deles se absteve de participar dos sucessivos conchavos e vergonhosas negociatas. Interessante que o discurso feito era para mudar o sistema, o que não acontecia, visto que era alimentado exatamente pelo jogo que eles praticavam, o que sustentava a manutenção do poder, ora com um, ora com outro, através da manipulação dos mecanismos eleitorais, garantindo assim seus próprios interesses.

Virou rotina entre todos eles, brigarem desesperadamente numa eleição e se unirem desavergonhadamente em outra.
Em função disso, a vontade do povo continuou sendo condicionada e manipulada por opiniões e atitudes que apenas a eles interessavam.
Os mecanismos democráticos foram vergonhosamente violados e corrompidos a cada eleição pelos fazedores de opiniões e condicionadores de candidaturas. Da mesma forma continuaram usando somente daquilo que lhes conviessem e, os candidatos que se seguiram foram também comprometidos.

A gestão de Gladstone Bandeira foi marcada principalmente pela prática do empreguismo, do nepotismo, do autoritarismo e dos boatos de corrupção na administração municipal, além das suspeitas de pagamento de gorjetas a alguns vereadores. No caso em foco e se os boatos tiveram realmente algum fundamento, lamentavelmente temos que admitir que aqueles que se venderam e se curvaram ante o dinheiro recebido não fizeram mais do que alimentar uma política de interesses individuais, além de ser uma atitude inteiramente aética, servil e mercenária, se enquadrando no sábio pensamento do Barão de Itararé que diz: “O homem que se vende recebe sempre mais do que vale”.
A frase se encaixa principalmente em se tratando de quem detém um mandato através do voto popular. É inaceitável que aquele que se diz representante do povo descambe para o caminho da corrupção a fim de se locupletar às custas da boa fé de uma gente tão carente de lideranças.
A verdade, é que com propina ou sem propina, alguns vereadores não tiveram a preocupação em transformar a Câmara Municipal numa espécie de secretaria do executivo com o agravamento de que as relações políticas colocaram em segundo plano o tão importante papel do Legislativo dentro da democracia.
Evidentemente que se não fosse um escasso número de vereadores que não aceitou se corromper, a Câmara teria sido inteiramente manobrada, com a utilidade apenas de ser subserviente ao poder executivo. Esses pouquíssimos heróis incorruptíveis sempre presentes salvam continuadamente os interesses do povo e o que a ele pertence, muitas vezes enfrentando uma maioria corrupta, desoladora e devastadora de consciências alheias.
A prática vergonhosa da propina nesses casos direciona sempre para um outro absurdo: se intensifica a exploração das pessoas, sobretudo nos momentos de eleição. Ao seguir essa prática, os políticos ao invés de vangloriarem-se como representantes do povo, deveriam sentir vergonha de si mesmos.
ELEIÇÃO PARA GOVERNO DO ESTADO - 1986
Com a aproximação das eleições estaduais de 1986 o governador Gonzaga Mota, mesmo rompido com os Coronéis, começou ensaiar o seu apoio ao vice-governador Adauto Bezerra para sucedê-lo no governo do Estado, entretanto, estranhamente anunciou depois que apoiaria não mais Adauto e sim Mauro Benevides do PMDB. Mais estranho ainda foi quando em poucos dias, Mota deixou de lado o nome de Mauro Benevides e lançou a candidatura de Tasso Jereissati, um jovem empresário, filho do senador Carlos Jereissati e um estreante na política.
Vamos lembrar que naquele tempo existia no Ceará um grupo de jovens da elite empresarial cearense que ingressara no final dos anos 70 no Centro Industrial do Ceará-(CIC), sendo eles, Tasso Jereissati, Beni Veras, Amarílio Macêdo, Byron Queiroz e os primos Assis Machado e Sérgio Machado. Além de outras coisas o CIC começou a agendar a política em suas discurssões com a intenção de se preparar para um dia tomar o poder dos coronéis no Estado.
O convite do Governador Gonzaga Mota para que Tasso Jereissati fosse candidato ia de encontro ao consenso entre todos os que compunham o CIC de que não era o momento certo para concorrer a uma eleição, pois segundo eles, ainda não estavam preparados, não obstante era comum o entendimento de que o Ceará precisava de um governo moderno em que a sociedade através de suas representações pudesse participar ativamente contribuindo para as decisões administrativas. Por esta razão é que aceitaram o convite do governador e através de Amarílio Macedo trataram logo de organizar um movimento denominado PRO-MUDANÇAS que consistia na montagem de um modelo administrativo para o Estado, caso Tasso viesse ganhar a eleição.
A campanha já se iniciou com um grande problema. O candidato Tasso Jereissati criticava contundentemente a política arcaica e cruenta dos coronéis, enquanto indiretamente tecia criticas à situação deplorável em que se encontravam os cearenses naquele momento, classificando o Estado como sendo de um povo miserável por culpa dos últimos governos. Ao se expressar dessa maneira, Tasso atingia inclusive o governo de Gonzaga Mota, ainda mais quando em seus pronunciamentos demonstrava-se revoltado dizendo que pretendia acabar com aquela miséria afirmando categoricamente: “O Estado nunca esteve a serviço do povo e que é preciso mudar”.
Mota desgostou-se, principalmente depois das insinuações de que ele estava atrapalhando a campanha do candidato peemedebista, confirmando sua insatisfação numa declaração ao Jornal do Brasil, quando disse:
"Estão dizendo por aí que eu sou um fardo pesado. Então, se pensam assim, por que vou me oferecer? Caso não queiram a minha participação, ficarei afastado da campanha". (Apud: www.noolhar.com/opovo/politica - Em 03.07.2003)
Por outro lado, a campanha dos Coronéis – novamente estavam todos unidos Adauto, César e Virgílio – era totalmente montada em cima da desorganização administrativa do governo de Gonzaga Mota com denúncias de nepotismo e de irregularidades nas contratações.
O clima ficou mais tenso, quando o candidato a vice-governador na chapa de Adauto Bezerra, Deputado Aquiles Peres Mota, fez acusações ao pai de Tasso, Senador Carlos Jereissati de desonestidade no mundo dos negócios.
Carlos Jereissati – eleito Deputado Federal em 1954 e 1958, Senador em 1962. Faleceu em 1963, aos 46 anos de idade de infarto.
O povo entendeu como sendo uma covardia, atacar um homem, inda mais depois de morto, no que levou ao PMDB usar isso como estratégia em seus programas eleitorais. Foi exatamente a partir dai, que o grupo dos coronéis começou a cair nas pesquisas, que até então davam vantagem de 37% de Adauto, contra 30,6% de Tasso.[2]
Os peemedebistas usaram as declarações de Aquiles Mota, para divulgar imagens do Senador Jereissati juntamente com Tasso ainda bastante jovem, acompanhadas da música “pai herói”, criando cenas emocionantes e de comoção que muito contribuíram para a reversão dos votos e em poucos dias Tasso atingiu 36% contra 26% de Adauto. Com a divulgação desse resultado as bases dos coronéis começaram a rachar e antigos partidários, muitos deles há mais de vintes anos ligados ao grupo coronelista decidiram apoiar Tasso.
Em Limoeiro do Norte, a maioria das lideranças políticas, apoiava Adauto Bezerra, tendo em vista de que era raro aquele que não se enquadrava na política dos coronéis, sobretudo pela influência de Manoel de Castro.
Rios de dinheiro corriam para as mãos dos líderes políticos locais e o representante maior de Adauto no município era Wilson Craveiro Holanda. Embora não mais manoelista, obedecia cegamente a política dos coronéis e sua residência na rua Cel José Nunes transformou-se num comitê pró-Adauto.
Enquanto isso, outras lideranças mais independentes, porém em menor número, optaram por apoiar a candidatura de Tasso Jereissati, inclusive o empresário Gerardo Lucena de Oliveira, um tradicional seguidor de Manoel de Castro.
Vale ressaltar que na região jaguaribana, principalmente em Limoeiro do Norte, os coronéis foram fragorosamente derrotados deixando a impressão de que a força de Manoel de Castro já não era tão eficiente como antes.
No final da campanha, Tasso elegeu-se com 52,32% contra 30,01%[3] de Adauto Bezerra. Mais ainda, o PMDB elegeu os dois senadores Mauro Benevides e Cid Carvalho.
Foi a partir de 1986, que se fechou o ciclo da era dos “coronéis no Ceará” mesmo assim e demonstrando ainda um certo poder, César Cals elegeu o seu filho César Cals Neto e Virgilio o seu Filho Carlos Virgílio, ambos para a Câmara dos Deputados. 
INÍCIO DA ERA TASSO 
A “era Tasso” começou num clima de muita expectativa, pois se esperava na verdade que aquele modelo arcaico e cruento dos coronéis tivesse chegado realmente ao fim e que o Ceará se projetasse com um governador jovem, dinâmico e acima de tudo, honesto.
Ao iniciar o seu governo, Tasso Jereissati teve de enfrentar uma tradicional estrutura política montada pelos coronéis, os quais detinham em suas mãos até aquele instante, no mínimo 115 municípios do total dos 151.
Começou a administrar o Estado como se estivesse administrando uma empresa e bombardeando contundentes declarações de que “não tinha um tostão para nada” e que “encontrara um Estado falido”, na verdade, já devendo três meses de pagamento do funcionalismo e uma arrecadação totalmente comprometida. Resolveu tomar algumas medidas que sabia ser desagradáveis, mas que viriam resolver sérios problemas administrativos inclusive no setor de pessoal a fim de acabar com o vício de alguns servidores em “receber dinheiro do Estado, sem dar expediente”.
Não levou para dentro da administração nem um resquício ou marca da administração de Gonzaga Mota, mesmo tendo sido o inventor e patrocinador de sua candidatura. Pelo contrário, em pouco tempo, Mota teve que engolir um duro rompimento e, seu governo passou a ser tratado como igual ao dos coronéis, portanto, de nada servia como modelo para a nova administração.
Estabeleceu inicialmente uma ruptura com as práticas viciosas e politiqueiras implantadas pelos coronéis criando um modelo administrativo em que os favores e contra-favores praticamente deixaram de existir. Ninguém, por mais importante que fosse, conseguia facilmente falar com o governador da forma como acontecia antigamente, quando deputados e chefetes políticos municipais adentravam ao palácio da Abolição e passavam horas e horas no gabinete do Governador tomando cafezinho e jogando conversa fora.
A partir de então ficou conhecido o famoso “chá de cadeira”, significando que qualquer um político que pretendesse ter uma audiência com o governador teria que esperar no mínimo umas duas horas sem contar que muitas vezes nem recebido era, – dependia muito do assunto a tratar – mesmo depois de ter passado tanto tempo esperando.
Mas se por um lado, o Estado voltou a ter credibilidade e notabilidade nacional, por outro, a miséria não mudou em nada. Através da modernidade administrativa, do equilibrio fiscal e da recuperação da economia e das finanças, o Estado passou por uma profunda mudança na cultura política, representando uma alteração também profunda. Mas nem por isso, os altos índices de miséria e pobreza, de desemprego e concentração de renda, deixaram de fazer parte da real situação do povo cearense.
A montagem de um fortíssimo esquema promocional, levou a mídia a propagar um governo de características sérias, todavia, ocultava por trás das bem montadas propagandas, uma cruel realidade: o povo continuava miserável. Tanto usou fortemente a propaganda que os recursos destinados para fins publicitários do governo foram altíssimos, numa demonstração de que havia uma intenção de mostrar ao restante do país cenas que não correspondessem inteiramente com a verdade.
[2] Dados da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura – Em 03 07.2003
[3] Fonte: http://www.tre-ce.gov.br/tre/eleicoes - Em 03.07.2003

Capítulo XVI - A ELEIÇÃO DE 1982 - CARECA X WILSON HOLANDA


UM DOS MOMENTOS mais movimentados políticamente em Limoeiro do Norte, foi o período que antecedeu as eleições de 1982.
Os fatos corriqueiros em se tratando de política, aconteciam sempre em torno de todo o grupo de Manoel de Castro, já que os grupos de Dr. Simões e Franklin Chaves estavam praticamente enterrados, afora dona Judite que inutilmente teimava em manter a sua liderança.
Sendo Manoel de Castro o governador do Estado, pretendeu naquele ano, fazer uma campanha nos municípios nos quais ele tinha respaldo eleitoral de modo que viesse fortificar o esquema montado por ele e VT, na retomada das prefeituras. Nomeou para as Secretarias de Administração e Casa Civil, o Dr. José Maria de Oliveira Lucena, rapidamente denominado pela imprensa de supersecretário, quando até então ocupava o cargo de Procurador Jurídico da prefeitura.
Como era de praxe, sempre que se aproximavam as eleições se iniciavam as conversas em torno de quem seria o candidato, razão pela qual surgiam os interesses daqueles que detinham poder de barganhar alguma coisa. Muitos políticos encostaram-se ao chefe cada vez mais servis e com a aproximação das eleições se acentuou essa subserviência, por conseguinte, foi sendo criada também uma área de atrito numa disputa de quem tinha ou de quem não tinha mais cartaz, mais privilégio, junto ao chefe.
Tinha o governador o objetivo de ganhar as eleições não somente em Limoeiro do Norte, mas também em Morada Nova e outros municípios da região. Orientou o Dr. José Maria Lucena para trabalhar nesse sentido, transformando-se a partir daquele momento em um astuto e versátil negociador dos malabarismos políticos. Transformou-se ainda no principal articulador para a sucessão de Evaldo Holanda obedecendo e seguindo a doutrina e princípio do chefe que costumava a dizer: “a única coisa vergonhosa em uma campanha política é perder a eleição e nada mais”.
Por outro lado, Antônio Holanda de Oliveira, “o velho da serra” que há algum tempo já vinha arrepiado com Manoel de Castro, decidiu candidatar-se para concorrer naquela eleição. Para desagrado do governador e levando a sério seu intento, começou a visitar alguns correligionários externando sua intenção de novamente dirigir o executivo municipal. Devido essa atitude, foi aconselhado por Dr. José Nilson Osterne com a seguinte frase: “cuidado Antônio, pois começando cedo assim, no final você terá vendido o último forno de cal”.
Mas o destino foi cruel com o Velho da Serra. Sua intenção foi barrada por uma enfermidade que o impediu de prosseguir na campanha, obrigando-se a colocar seu filho Wilson Craveiro Holanda no seu lugar. Com Wilson candidato, a oposição de Manoel de Castro tornou-se mais acirrada, pois teria dito em conversas informais “que Wilson jamais seria prefeito se dependesse dele”.
Na época se ouviu um boato de que uma das razões pela qual Manoel de Castro se impôs contra os nomes de Antônio Holanda e Wilson se qualquer um dos dois fosse candidato, foi por sugestão e até imposição do seu supersecretário Dr. José Maria Lucena, o qual conservava alguns arranhões e atritos pessoais com Wilson Holanda.
Mesmo doente, e ainda resistindo com a fibra que sempre fez parte do seu caráter, Antônio Holanda decidiu partir para a briga, para o confronto, embora consciente de que a sua avançada idade e a enfermidade não lhe permitiriam envolver-se em mais uma campanha política.
Gladstone por sua vez, interessava encostar-se ao governador mostrando que mesmo tendo sido derrotado por ele nas eleições passadas, tinha atrás de si uma legião de eleitores que seguia à risca as suas orientações políticas. Numa verdadeira demonstração de falta de respeito ao povo e de que pouco lhe importava o senso de moral nas habilidades para conseguir o poder, voltou ao seio de Manoel de Castro, prometendo esquecer totalmente tudo o que dissera e fizera quando com ele rompeu em 1976. Aliás, essa passaria a ser a característica mais peculiar do Careca: nunca se abster em participar de conchavos e acordos a fim conseguir seus objetivos políticos.
Com a ideia implantada na cabeça de que sem a máquina administrativa ninguém consegue chegar à prefeitura, Gladstone conseguiu o apoio tanto do governo do Estado na pessoa do governador Manoel de Castro quanto do governo do município na pessoa de Evaldo Holanda Maia. O nome do candidato a vice-prefeito de Gladstone por sugestão de Raimundo de Castro e Silva e com o respaldo de dona Osmira e facilmente aceito por Manoel de Castro recaiu sobre o jovem odontólogo João Dilmar da Silva, uma figura inteiramente desconhecida dos limoeirenses, sem nenhuma experiência, totalmente avesso e alheio à política além de um fraquíssimo orador de palanque. Sua indicação era somente mais uma demonstração de que colocavam nomes como candidatos conforme suas vontades, pouco importando se representavam os anseios do povo.

Com o lançamento do nome do Careca, Antônio Holanda não se intimidou e lançou a candidatura do seu filho Wilson Craveiro Holanda. Há de se convir, que o rompimento de Antônio Holanda com Manoel de Castro, muito embora tenha sido encarado como um ato de heroísmo e coragem foi muito mais uma demonstração de desgosto e de insatisfação por ter recusado em apoiar a candidatura do seu filho para prefeito depois de ter-lhe servido fielmente durante tantos anos.

A candidatura de Wilson Holanda tão logo foi levada ao conhecimento público, caiu nas graças do povo. Méritos para isso não lhe faltavam, visto que era jovem, simpático e dinâmico em tudo que fazia. Para reforçar, convidou para vice-prefeito o benquisto industrial de filtros José Mendes.
Na esfera estadual, foi buscar o apoio do Coronel Adauto Bezerra, passando a ser um dos que tomava cafezinho em seu gabinete. Através de dona Judite recebeu também o suporte do Coronel César Cals e do seu filho César Neto, então Deputado Federal.
O nome de Wilson Holanda foi de tal forma aceito pelos limoeirenses que sua ascensão preocupou por demais os partidários do governador que passaram a não acreditar mais em uma vitória fácil.
É bom que se diga, que ambos os candidatos integravam o PDS (Partido Democrático Social) bem como apoiavam Gonzaga Mota ao governo do Estado candidato de Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals. A configuração de intriga e desavença que as lideranças estabeleciam no município em estarem sendo apoiado por um ou outro, era apenas um reflexo do que acontecia também no Estado onde os coronéis, mesmo se dizendo “unidos”, brigavam desesperadamente.
Durante a campanha, o crescimento da candidatura de Wilson Holanda tornou-se tão evidente que o governador e seus asseclas, inevitavelmente, tiveram que partir para o uso de várias estratégias caso contrário perderia a eleição, o que não era nada agradável, tendo em vista que essa seria a vitória mais importante na vida de Manoel de Castro, pois na qualidade de governador tinha como ponto de honra ganhar mesmo que tivesse que usar de todo tipo de esquema.
À revelia da própria Lei, começou por efetuar várias contratações em todo o Estado do Ceará.
“No Arquivo Estadual existe uma edição do Diário Oficial, assinado por Castro, em 1982, nomeando mais de 15 mil servidores, sem concurso público, num único dia - antes das eleições. [...] O Estado do Ceará ainda hoje paga o preço de seu governo - que inchou a máquina pública (principalmente de aliados) sem se preocupar como a conta seria paga”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Castro_Filho - Em 31.11.2009)
A respeito de tais nomeações, o jornalista J. Ciro Saraiva (Quixeramobim), dá seu testemunho de que realmente elas foram uma exigência de VT, dizendo o seguinte:

Coube ao Governador Manoel de Castro honrar os compromissos que Virgílio assumira, para que cessassem as resistências à candidatura de Gonzaga Mota, em 1982. Acompanhei-o à casa de VT, onde fomos recebidos reservadamente.
- Virgílio, as nomeações foram feitas. São 16 mil.
Resposta lacônica:
- Muito bem.
O Governador, que não tinha meias palavras, destacou:
- Fiz isso, por causa de você.
Outra resposta lacônica:
- Muito bem.
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Vinte ou trinta dias depois, Virgílio me chama à sua casa:
- Quero dizer ao senhor que jamais concordei com essas nomeações que os jornais estão publicando.
Não pude ficar calado:
- Mas, Coronel, o Governador Manoel de Castro veio aqui lhe dizer que fez as nomeações por causa do senhor!
Cortou-me a palavra:
- Muito pelo contrário, só fizeram me atrapalhar.
Contei ao Dr. Manoel de Castro. Riu gostosamente e depois, comentou:
- O Virgílio é assim mesmo!

Aqui em Limoeiro do Norte, por exemplo, foram efetuadas em torno de duas mil dessas contratações na esperança de que se revertesse em votos favoráveis aos seus candidatos. Os responsáveis pelas indicações das pessoas a serem contratadas, eram os chefes políticos seguidores da doutrina manoelista. O único critério a ser cobrado no ato da contratação, era sobre o voto, que deveria ser dado aos candidatos indicados pelo Governador. Só para ilustrar o episódio das contratações, alguns dos contratados ao ter que apresentar os documentos exigidos e não os tendo o faziam com documentos falsificados, com mais frequência para os certificados de escolaridades. Já o Raio “X” de pulmão, um dos itens exigidos, muitos foram emprestados de um vizinho ou de outra pessoa conhecida.


Ainda sobre as contratações o repórter da TV Verdes Mares Nelson Faheina, por ocasião de uma entrevista com o governador fez a seguinte pergunta:
– É verdade, governador, que o senhor nomeou 15 mil pessoas?
Ele respondeu:
– É mentira. Nomeei trinta mil. São pessoas humildes, e, como elas, vou ainda nomear muito mais. E não me pergunte mais nada. Não admito ninguém me cutucar com vara curta.  (FAHEINA 2011, pág. 154)

O governador, ainda sentindo que estava sendo difícil superar a popularidade de Wilson Holanda carreou para Limoeiro do Norte, algumas obras que julgou importantes e eficientes na conquista dos votos. Aliás as únicas obras trazidas por Manoel de Castro para Limoeiro do Norte, durante suas quase três décadas de atuação como Deputado Estadual.
Foi naquele ano em que se construiu o Terminal Rodoviário, por sinal, um dos mais modernos do interior do Estado. Aproveitando a onda das obras, mandou demolir um prédio que tivera sua construção iniciada na gestão de Custódio Saraiva – Hospital/Maternidade – e edificou o Centro Social Urbano. A demolição foi um presente do governador à família Chaves, visto que o prédio inconcluso era um monumento à corrupção das administrações limoeirenses. Instalou a Sede do DETRAN e por último implantou o PROMOVALE(*) indicando uma considerável melhoria para o trabalhador rural da Região Jaguaribana e, sobretudo de Limoeiro do Norte. Não passou de uma manobra política, pois na realidade nunca esteve a serviço dos objetivos para os quais fora criado.
(*)O Promovale abrangia os municípios de Alto Santo, Aracati, Iracema, Itaiçaba, Jaguaruana, Jaguaribara, Jaguaretama, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Palhano, Pereiro, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte.
Nem mesmo com isso se fez sentir uma queda na popularidade de Wilson e para Manoel de Castro ser derrotado justamente naquele momento seria uma vergonha por dois motivos: primeiro, porque imbuído do cargo de governador tinha o dever de ganhar para comprovar sua força política e segundo, porque o adversário, no caso Wilson Holanda, foi fruto de um rompimento com seu grupo o que lhe provocou um sentimento de vingança e derrotá-lo seria uma questão moral.
Em meio à campanha, o candidato a vice-governador Coronel Adauto Bezerra compareceu a um comício na Praça da Catedral em apoio a Wilson Holanda, ocasião em que pronunciou um discurso falando sobre o “Careca” fazendo zombaria sobre a forma como o candidato era conhecido. Seu pronunciamento foi ouvido por Manoel de Castro do 1º andar da casa do seu concunhado Genésio Bezerra.
A vinda do Coronel Adauto Bezerra a Limoeiro causou pânico no grupo do governador crescendo o temor de perder aquela eleição. Sem ver alternativa, Castro partiu para o aliciamento direto aos eleitores e, de maneira acintosa e prepotente bem como numa verdadeira demonstração de descompromisso com a Lei usou o dinheiro do contribuinte para derrotar o seu adversário.
Era tão clarividente e aberrante a compra de votos e sem o menor respeito às Leis eleitorais, que em um determinado dia, próximo ao dia da eleição formou-se uma enorme fila, partindo da casa do próprio governador na Rua Padre Joaquim de Menezes, onde foi distribuído dinheiro vivo para o povo na quantia de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) para cada pessoa. Sabe-se ainda da distribuição de televisores, máquinas de costura, pneus de bicicletas e outros objetos em troca de votos.
Como última cartada o governador conseguiu trocar o juiz eleitoral quando faltavam apenas três dias para a eleição, voltando a Limoeiro o conhecido Dr. Miguel Aragão, apenas para aquele período.
No dia da eleição mandou para as ruas um enorme contingente policial fortemente armado, para intimidar os eleitores, fazendo reviver o tempo em que os adversários não podiam se manifestar. Os policiais, o juiz e os fiscais da justiça, permitiram que fosse feita propaganda do candidato do governador da seguinte forma: como o número de Gladstone era o 15, todos, até mesmo os que estavam trabalhando nas seções eleitorais, traziam um adesivo de um “jacaré”, relacionando o número 15 do jogo do bicho com o número do candidato.

Naquele fogo cruzado onde se debatiam duas grandes forças políticas, o PMDB para representar resistência e oposição àquelas candidaturas que não passavam de um resultado pelo racha no PDS, resolveu lançar uma chapa em que figuraram os nomes do Dr. Moacir e Cristóvão Pitombeira para prefeito e vice-prefeito respectivamente. Ao realizarem o último comício, os peemedebistas foram ingênuos quando partiram para a mesma data dos seus dois concorrentes e montaram palanque na Praça da Catedral. Além da inferioridade diante do poderio dos outros candidatos, foram ainda massacrados no momento em que realizavam a concentração, quando, tanto a caravana de Wilson Holanda quanto a do Careca, ao fazerem as passeatas, passaram justamente no meio da pequena multidão presente ao evento abafando de vez o coro já quase inaudível dos oposicionistas.

Já os comícios de encerramento dos dois grandes concorrentes foram realizados simultaneamente na Praça da Rodoviária (Careca) e na Rua Cel. Francisco Remígio (Wilson), ambos com a participação de uma grande multidão.
Para finalizar e antevendo ainda a imensa dificuldade em derrotar o adversário, os responsáveis pela campanha montaram um esquema, em que se não pudesse reverter os votos de Wilson em favor de Gladstone, pelo menos fosse conseguido com que o eleitor se abstivesse de votar. Os encarregados desse serviço eram os motoristas, que por ocasião do transporte de eleitores, indagava com quem iam votar, se caso fossem com Wilson, lhe ofereciam dinheiro e o induziam ainda a não votar em nenhum dos dois. Esse último passo foi decisivo para o resultado em favor do Careca, visto que, naquela eleição houve mais de mil e quinhentas abstenções enquanto que a maioria de Gladstone sobre Wilson foi pouco mais de mil e trezentos votos, portanto, menor que o número de abstenções, o que leva a analisar de que sem elas, Wilson teria saído com a vitória.
Sabe-se de uma retirada vultosa em dinheiro do BRADESCO, altas horas da noite em que antecedeu o dia da eleição, para assegurar a compra de votos.
Há quem afirme categoricamente que todo o processo político que levou Wilson Holanda à derrota, teve como mentor o supersecretário de governo o Dr. José Maria Lucena visto como coordenador e conselheiro do governador Manoel de Castro, que por sua vez assinou embaixo todos os atos do seu secretário objetivando resultados positivos naquela eleição. Todavia, a preocupação de Manoel de Castro com Limoeiro do Norte não funcionou em Morada Nova, sua terra natal, onde alguns de seus irmãos e outros membros da própria família eram seus principais adversários.
“O esquema falhou na própria cidade do governador Manoel Castro, Morada Nova, apesar de toda a assistência dada àquele município chegando até a transferir o Banco do Estado do Ceará para lá. Mas o fato é que a família Castro estava dividida. O irmão do governador subia, por exemplo, aos palanques, para pregar a desonestidade e falsidade do mano”. (JUNIOR, 1984, p. 58)
Se ganhou em Limoeiro, em Morada Nova Manoel de Castro perdeu, sendo essa a primeira derrota de um governador em sua terra natal na história do Ceará.
“Ele usou e abusou da máquina estadual para eleger candidatos de sua preferência, mas chegou a perder a eleição em sua cidade natal (Morada Nova), em 1982, tendo a filha como deputada estadual (Douvina Aleuda Eduardo de Castro) e o irmão, Isaias Castro, então prefeito da cidade”.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Castro_Filho - Em 31.11.2009)
Foi a partir daquele ano que Manoel Castro praticamente encerrou sua vida pública e com isso, fazendo despontar outras lideranças se iniciando um novo ciclo na política limoeirense.

Durante a campanha um trágico acontecimento abalou toda a classe política bem como toda a população do município. Faltando apenas duas semanas para a eleição, foi brutalmente assassinado com um tiro no peito o candidato a vereador Jurahy Santiago, vitima de um crime passional, ao envolver-se com uma mulher. O companheiro desta, enciumado cometeu o fatídico homicídio.
Logo ficou provado que o crime não teve nenhuma relação com a campanha política que estava acontecendo naquele momento, todavia, em acontecimentos desta natureza sempre existem os mal-intencionados que planejam tirar proveito da situação. No caso do assassinato de Jurahy, um desses maldosos políticos, do tipo que não lhe importa o motivo nem o caminho para chegar a um resultado positivo, por mais sórdido que seja esse caminho, chegou a sugerir ao candidato Wilson Holanda a contratação de pistoleiros para assassinar um dos adversários, insinuando ele que a morte de Jurahy teria sido por motivos políticos. Como era de se esperar, Wilson não deu nenhum crédito nem ouvidos ao que sugerira o pernóstico candidato a vereador.

Se na Política “ninguém é santo” há aqueles que vão além da coerência e da ética para se elegerem, pouco lhes importando o conceito de homens públicos. Os fatos interessantes também existem nas campanhas dos candidatos a vereador e que muitas vezes se revestem de fantásticos acontecimentos, frutos de montagens cerebrinas e brilhantemente postos em prática de maneira altamente eficiente. Para comprovar, vamos relembrar o fato que levou o candidato a vereador Gentil Saraiva à derrota na sua campanha para a Câmara Municipal em 1982. Como era afilhado de dona Judite, tinha desta uma especial simpatia, muito embora ela nunca demonstrasse qual era o seu candidato preferido, porem dedicava ao afilhado uma deferente atenção. Essa estreita amizade gerou um ciúme doentio no também candidato Professor Antônio Pergentino Nunes, que tratou de montar uma solerte e sórdida estratégia, a fim de abater a concorrência de Gentil Saraiva, a quem considerava um empecilho na sua intenção de eleger-se vereador. Ora, sabendo ele que existia entre Judite Chaves e Raimundo de Castro algumas mágoas, consequência ainda do rápido pouso deste no ninho de Manoel Castro tão logo terminou a eleição de 1966 – como já vimos – e também sabendo que Raimundo de Castro estava apoiando Zé Holanda Baixim para vereador, resolveu criar uma história, digna de um cérebro astuto e ardiloso. Chamou dona Judite em confidências, dizendo-lhe que Raimundo de Castro andava comentando que ele, Pergentino, não seria eleito, pois dona Judite não tinha mais prestígio como líder política nem votos suficientes para eleger sequer um vereador no município e ia mais além, dizendo que o seu candidato, Zé Holanda seria um dos mais votados o que viria comprovar justamente que ele era quem tinha condições para eleger quem quer que fosse e por isso tinha escolhido para apoiar um nome sem nenhuma expressão política. O poder de persuasão de Pergentino mais uma vez não falhou e, dona Judite, com receio de que se confirmassem os supostos comentários de Raimundo de Castro, desprezou totalmente o nome de Gentil Saraiva e passou a trabalhar com afinco o nome do Professor, resultando em sua espetacular eleição e, por conseguinte, na derrota de Gentil Saraiva, que por muito tempo, guardou a marca da traição do seu correligionário.
Tão grande era a obsessão de Pergentino por uma vaga na Câmara Municipal, que chegou a ameaçar pessoas da própria família, ao tomar conhecimento que parentes muito próximos estavam também se candidatando a uma vaga no legislativo, achando que somente ele tinha o direito de disputar o cargo e a divisão dos votos na família poderia prejudicar a sua candidatura.

Um fato também digno de registro diz respeito à campanha de três candidatos a vereador: José Maria de Andrade, José Holanda (Baixinho) e Rita Peixoto.
Os patrocinadores dos três respectivos candidatos travaram uma disputa dentro do próprio grupo para saber quem elegia o seu vereador com maior quantidade de votos. José Maria de Andrade estava sendo apoiado por José Maria Lucena, José Holanda por Raimundo de Castro e Rita Peixoto por Douvina Castro.
Raimundo de Castro dizia em conversas informais que mostraria àqueles que diziam que ele não tinha mais prestígio para eleger sequer um vereador, e elegeria um nome sem nenhuma expressão política, e por isso escolhera Zé Holanda para dar seu aval político, a quem por deboche o tratava como “Zé Priquitim”.
O fato que os três foram folgadamente eleitos. Quem conseguiu um maior numero de votos, foi Rita Peixoto, tendo sido a campeã atingindo a extraordinária cifra de mais de 1300 sufrágios, numa campanha que se igualou à do prefeito, com direito a trio elétrico exclusivo e sem dúvidas uma significativa soma na eleição do Careca levando-se em conta o grande número de votos obtidos. José Holanda, também saiu bem votado e por fim, Zé Maria de Andrade cuja eleição, segundo ele próprio, lhe deu um mandato ilegítimo.

Para melhor ilustrar a eleição de Zé Maria, é bom que contemos a história verdadeira de como ele chegou ao parlamento municipal. Tudo começou quando o seu sogro Antônio Vicente Maia, achou por bem não concorrer naquele pleito, tendo em vista a sua avançada idade e saúde debilitada. Convidou então Zé Maria para em lugar dele, candidatar-se a vereador que a princípio rejeitou a ideia do seu sogro, porém cedeu depois, indo até Fortaleza para receber o apoio do Dr. José Maria Lucena. Tanta certeza tinha da seriedade que deve ter um homem público, que Antônio Vicente, ao convencer o genro a ingressar no mundo da política, disse que “a política é para os homens de bem”. – pelo menos deveria ser.
A eleição de Zé Maria custou a distribuição aos eleitores de filtros para água, de mais alguns televisores e máquinas de costura. Segundo o próprio Zé Maria, somente os filtros foi do seu conhecimento, e fez a distribuição da forma mais justa possível, sem olhar e nem questionar o voto de qualquer eleitor.
Diante desse pequeno histórico sobre o vereador Zé Maria, nos convém fazer uma ressalva interessante com relação à sua atuação como parlamentar. Era de se esperar que da forma como foi eleito, fosse mais um para não honrar o mandato recebido do povo, todavia ao chegar ao parlamento, Zé Maria transformou-se num ferrenho defensor das causas sociais, marcando presença em todos os movimentos populares, empenhando a sua voz e o seu esforço em prol de causas socialmente justas. Como prova de uma ideologia política realmente identificada com as causas sociais, se filiou tempos depois ao PT (Partido dos Trabalhadores) e é justo dizer, que sua atuação na Câmara sempre foi de respeito aos votos recebidos. Neste caso e para entender melhor a atitude e a conduta política de Zé Maria no seu contexto real, é necessário conhecer o momento histórico e político em que ele teve que se sujeitar à uma maneira imprópria para conseguir o seu primeiro mandato. Achamos conveniente, portanto, atribuímos à esse fato, uma das frases mais famosas de Maquiavel: "Os fins justificam os meios”. Se nesta comparação houve intenção ou não para que tão logo fosse eleito demonstrasse seu caráter de homem verdadeiramente público, a verdade é que Zé Maria deu um exemplo de que a máxima de Maquiavel pode ser colocada perfeitamente em prática, embora saibamos que muitas vezes ela é usada pelos políticos para sugerir que um fim considerado muito importante torne moralmente justificável o uso de um recurso a qualquer meio.

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Sobre a eleição de 1982 não podemos deixar de registrar um fato lamentável com relação ao então prefeito Evaldo Holanda Maia quando se destinou a apoiar o candidato que fora derrotado na eleição passada pelos mesmos que naquele momento de tudo faziam para elegê-lo. Depois de exaltarmos as qualidades de Evaldo e o seu caráter de homem público, somos obrigados a lamentar a sua tomada de posição no que diz respeito àquele pleito eleitoral de 1982 e, nos comprime muito mais em dizer que, apesar do seu caráter inquestionável, se mostrou naquele momento como um homem fraco, quando ajudou a engendrar as manobras para eleger o Careca. É bastante compreensível que ele se sentisse na “obrigação” de proceder dessa forma pelo muito que devia a Manoel de Castro principalmente por torná-lo prefeito em 1976, entretanto, muito mais gratidão devia a Antônio Holanda, que foi quem o indicou de forma incondicional como candidato em 1976. Aqui se encaixam muito bem as palavras do próprio Wilson Holanda quando certa vez se referindo ao fato disse: "Evaldo nos traiu miseravelmente". Portanto, seria mais digno e até para combinar com tudo que dele já dissemos, se não tivesse se mancomunado com aqueles que queriam eleger o Careca a qualquer custo, mas ao que pareceu Evaldo o fez “ex toto corde”.
Sobre o retorno do Careca ao ninho manoelista podemos dizer que foi uma atitude de esperteza, já que pretendia ser prefeito de Limoeiro a qualquer custo e por outro lado, Manoel de Castro ganhou de volta um dos seus mais abnegados serviçais. Com aquela atitude, o Careca, mostrou que o grito de liberdade dado em 1976 não passou de uma farsa e que seu lugar era mesmo o ombro de Manoel de Castro, aliás, de onde nunca deveria ter saído. Sua identidade política teria sido mostrada de forma confiável se tivesse sustentado a sua decisão de chegar ao poder executivo através da força popular e não pela manipulação no aliciamento dos eleitores. Aproveitou-se ainda da morte de Zé Hamilton, visto que se fosse vivo, jamais teria aceitado naqueles termos a sua candidatura. 
Já Wilson Holanda, ao ser derrotado da forma como foi por Manoel de Castro, sentiu na pele aquilo que ajudara a fazer com o próprio Gladstone Bandeira em 1976, quando este foi derrotado por Evaldo Holanda Maia. Ao ser massacrado políticamente por aquele a quem rendeu subserviência, Wilson Holanda veio comprovar de que disputar contra Manoel de Castro era o mesmo que remar contra a maré, ou seja, arcar com a amargura de ser pisoteado e humilhado perante todos. Mesmo tendo sido derrotado de uma forma humilhante, Wilson bem que mereceu ser vítima de Castro e de seus comparsas, visto que até então, lambia e limpava os pés do “Velho Guerreiro” devotando-lhe igualmente a todos, uma subserviência total. E também se sabe que em circunstâncias que lhe fossem favoráveis, com certeza não teria o menor escrúpulo em participar de uma armação nos mesmos moldes daquela que lhe derrotou, para tirar do páreo um adversário.
Manoel de Castro tinha uma característica interessante na sua forma de fazer política. Como já dissemos, não se acanhava em juntar-se com os que em outras ocasiões lhe dirigiram insultos através de palanques adversários. Entretanto, essa estratégia se transformava numa forma de tornar cada vez mais subserviente aquele que regressava para o seu lado, o que importava na realidade, eram os rendimentos políticos e a concretização de seus pretextos eleitorais. Estabelecia entre os seus asseclas um jogo de favoritismo, em que usando de seu prestígio com o governo do Estado presenteava-os com empregos para a família, como forma de convertê-los cada vez mais em seguidores de sua doutrina política. Conseguiu com essa hábil maneira de agir a adesão da maioria das lideranças limoeirenses em troca de empregos e cargos públicos do Estado. Para comprovar, podemos afirmar seguramente que durante o período de sua atuação política em Limoeiro, não vamos encontrar facilmente um servidor público estadual que não tenha sido “empregado” por seu intermédio. Grande parte das famílias limoeirenses, dentre elas, os Holanda, os Castro, os Costa, os Da Silva, os Osterne, etc., tem empregos cedidos por Manoel de Castro e algumas dessas famílias têm, até hoje, empregados praticamente todos os seus membros.

Manoel de Castro usava os palanques políticos com uma perspicácia extraordinariamente peculiar, e seus improvisos no meio dos discursos era o que mais impressionava. Como exemplo, vejamos o que diz o jornalista Ciro Saraiva:
O improviso do dr. Manoel
Em 1982, o Governador Manoel de Castro deu-me uma incumbência:
– Quando eu estiver falando e fizer alguma referência ao Adauto (Bezerra), puxe no meu palitó.
À noite, estávamos em Senador Pompeu, pregando a candidatura de Aécio de Borba. Comício grande, o governador abriu o sarrafo contra Adauto. Fiz o que ele mandara. Ato contínuo emendou no seu discurso:
– E não adianta Ciro Saraiva, puxar meu palitó, não, que ninguém vai me impedir de dizer a verdade!
http://www.casadoceara.org.br/arquivos/Jornal/JornalMaio09/jornal.pdf - em 06.02.2010

Aceitar está do lado de Manoel de Castro, era o mesmo que assinar um termo de que teria que seguir uma doutrina, onde o comandante dificilmente aceitava aposições de suas ideias ou das posições tomadas, criando um fanático proselitismo político onde os seus seguidores passavam a exercer um devotado capachismo, sobretudo em agradecimento aos empregos públicos recebidos. Agindo assim, Manoel de Castro colocou sob o seu jugo praticamente todos aqueles que se destinaram a ser partidários seus, incluindo gente de todas as camadas sociais que ia desde à classe de médicos, dentistas, advogados e agropecuaristas, até aos mais simples e humildes homens do campo. Por outro lado e na hora certa o “velho guerreiro” usava de outra faceta sutilmente habilidosa: era tratar a pão e água alguns dos seus prosélitos, sabendo que eles jamais teriam a coragem e a petulância de deixar de segui-lo. Com relação a essa dúbia e estranha atitude, dizia às vezes, que “não teria nenhuma vantagem em investir naquilo que já era seu”. 
O exemplo que podemos citar para confirmar esse gesto é o de Francisco Moreira Filho de Tabuleiro do Norte, que segundo o seu filho Jesus Moreira de Andrade, Chico Moreira era seguidor extremamente fiel à doutrina política de Manoel de Castro, mas que sofreu durante toda a sua vida o desprezo e a indiferença por parte do chefe, principalmente com relação aos empregos, com os quais costumava presentear os seus seguidores. Ainda segundo Jesus Moreira de Andrade, mesmo depois da morte do pai, Manoel de Castro não se sensibilizou:
”...ficamos em quase completo abandono por parte do Deputado Manoel de Castro Filho, a quem meu pai foi “fiel até a morte””. (ANDRADE J. M., 1980, p. 82)
Jesus diz ainda que sua mãe viúva tentou por várias vezes uma ajuda para a família, que passava por imensas dificuldades financeiras. Mesmo dizendo-se abandonado, Jesus Moreira lembra que tiveram os empregos sim, porém à custa de muito esforço de sua mãe que passou a implorar humildemente de Castro:
“Lembramos que naquela época quase todos os dias a nossa mãe se deslocava do bairro Otávio Bonfim, onde morávamos numa casa alugada, até o bairro de Fátima, a pé, onde morava o deputado Manoel de Castro. Apesar de todo esse sacrifício e humildade da nossa mãe viúva, nada foi conseguido, a não ser o emprego de contínuo nas repartições do governo, cargo este que assumimos com a maior naturalidade, forçados pelas dificuldades que estávamos passando.” (ANDRADE J. M., 1980, p. 82)
A CANDIDATURA DE GONZAGA MOTA – O ACORDO DOS CORONEIS


Também acontecia naquela época a primeira eleição direta para governador após a Revolução de Março de 1964. A novidade era que para participar das eleições, os partidos eram obrigados a apresentar candidatos a todos os cargos em disputa e o eleitor não podia votar em candidatos de partidos diferentes, ou seja, era obrigado a votar no mesmo partido para todos os cargos, caso contrário o voto seria anulado. Foi o que ficou conhecido como "voto vinculado” cujo objetivo era de que ao se juntar as eleições para todos os cargos em um único pleito, o PDS saísse favorecido e fortalecido, já que se encontrava visivelmente desgastado pelas práticas politiqueiras estabelecidas desde a antiga ARENA. Esse foi o único motivo pelo qual o “voto vinculado” foi legalmente adotado em 1982, muito embora, a alegação fosse de que os partidos sairiam fortalecidos e teria assegurada a fidelidade partidária. Mas na prática mesmo, o que se julgava era que a vinculação do voto beneficiasse o PDS, partido do Governo Federal, dominante na maioria dos estados e dos municípios no país. O certo é que a estratégia não funcionou como o desejado e incrivelmente, o PMDB teve suas bancadas aumentadas de forma considerável em praticamente todos os Estados da federação e ainda mais com a surpresa causada pela grande quantidade de votos brancos e nulos, numa clara demonstração de insatisfação do eleitor brasileiro.
No Ceará, para que se definisse quem seria o candidato de consenso dos coronéis necessitou de um acordo na presença do então Presidente da República General João Figueiredo, consolidando o famoso Acordo de Brasília ou mais vergonhosamente o Acordo dos Coronéis.
Tudo começou quando Adauto Bezerra dizia em entrevistas que seria candidato e Virgílio Távora também divulgava pela imprensa através do Governador Manoel de Castro que Aécio de Borba sairia candidato com o seu apoio. Naquele momento o racha no PDS cearense era evidente. Sentindo que estava perdendo espaço para os dois desafetos, César Cals usou do seu prestígio junto ao Presidente Figueiredo para que os três fossem convocados a uma reunião no Planalto e mediante a um acordo estabelecessem as regras para as eleições daquele ano no Ceará.
Em meio à reunião Virgílio Távora surpreendeu a todos quando arrancou do bolso do paletó um nome do seu antigo secretariado para candidato. Tratava-se de Luiz Gonzaga da Fonseca Mota, um jovem economista, Professor da UFC, Técnico do BNB e até pouco tempo Secretário de Planejamento do governo, o qual VT considerava altamente competente e além do mais alegava ser um nome neutro e longe dos interesses grupistas. Aquela atitude de Virgílio resultou numa frase amplamente divulgada de que fora “tirado um totó de um saco de gatos”, numa alusão de que em meio a todo aquele emaranhado de interesses pessoais VT, conseguiu sobrepor a sua vontade indicando um nome aparentemente manobrável e mais uma vez levou vantagens graças às suas inteligentes manobras. Se a expressão totó – na frase – fazia referência a um cão pequeno, a palavra também significa Chute Fraco o que ironicamente se enquadrou tempos depois na situação dos coronéis, já que Gonzaga Mota rompeu com todos eles durante o seu governo.
Ainda fazendo parte do “acordo” Virgílio partiria para o Senado, Adauto entraria na chapa como vice-governador e Cals indicaria o prefeito de Fortaleza - indicou o seu Filho César Cals Neto (1983/1985) - enquanto o Estado seria dividido em três fatias de 33% dos seus cargos para cada um deles, sobrando – matematicamente – 1% para o novo governador.
Se não tivesse havido o acordo e as intenções dos coronéis em disputar o poder “cada um por si” tivesse se concretizado o Ceará teria tido uma campanha de um só partido, porém com dois fortíssimos blocos: um apoiado pelo poder da máquina administrativa do Estado, portanto, patrocinado pelo dinheiro do povo através do Governador Manoel de Castro e o outro apoiado pelo poder econômico/empresarial dos Bezerras do Cariri. Mas falou mais alto o interesse pessoal de cada um, razão pela qual acharam melhor lotear o Estado entre eles e seus apaniguados.
Contudo, ao se iniciar a campanha eram claras as divergências entre os coronéis. Adauto Bezerra, mesmo sendo candidato a vice-governador, demonstrava não ter o menor interesse em que Gonzaga Mota se elegesse, justamente por ter sido indicado por Virgílio Távora, antevendo que Mota seria uma peça de fácil manobra política nas mãos de VT. Diante disso, orientou aos seus partidários a encabeçar uma campanha em favor do “Voto Camarão”, sugerindo que em virtude da vinculação do voto, onde o eleitor tinha que votar em candidatos de um mesmo partido, não teria o voto anulado se deixasse de votar em algum nome da chapa, portanto, não haveria problema em desprezar o voto de governador que encabeçava a lista e marcar os outros postulantes, ou seja, de senador a vereador.
Esse procedimento poderia desencadear numa enormidade de votos brancos para governador e reverter o resultado em favor de Mauro Benevides, candidato do PMDB.
Era com essa briga interna que Mauro Benevides esperava ser beneficiado, repetindo a dose da eleição de 1974, quando foi eleito senador ainda no MDB. É que naquela eleição o candidato a senador arenista Edílson Távora – indicado por César Cals – mantinha uma área de fortes atritos na política cearense, além de ser inimigo pessoal de Virgílio, que evidentemente não o apoiou, resultando numa vitória espetacular de Benevides para o Senado Federal.
Só que em 1982 mesmo sugerindo o “voto camarão”, no final prevaleceu em Adauto Bezerra o instinto econômico/empresarial, temendo uma perseguição do planalto sobre suas empresas e resolveu colaborar para que Gonzaga Mota fosse eleito.
Aquela seria a última eleição sob o comando do Coronéis, e como se fosse uma premonição de Virgilio Távora, podemos destacar o seguinte:


A profecia de vt
15 dias antes das eleições de 1982, Virgílio Távora reuniu a Assembléia de Comunicação e o Coordenador de Campanha, Aldenor Nunes Freire. Mostrou números que lhe eram trazidos pelo SEI (Serviço Estadual de Informações) que asseguravam a vitória de Gonzaga Mota (PDS) sobre Mauro Benevides (PMDB). Depois, perguntou:
- Qual vai ser a maioria do Totó (Gonzaga)?
- 200 mil votos, chutei.
- 300 mil votos, sugeriu Aldenor.
Virgílio emitiu sua opinião:
- Ganharemos por mais de 600 mil votos.
Votação apurada para Governador: Gonzaga Mota: 1.140.259
(58,7% do eleitorado); Mauro Benevides, 478.755 (24.5) maioria:
661.794 votos. Ao encerrar a reunião, depois de recolher os calhamaços de  informações, Virgilio fez uma frase profética:
- Esta é a última vitória dos coronéis.
Em 1986, deu Tasso Jereissati pelas mãos de Gonzaga.
J. Ciro Saraiva (Quixeramobim), jornalista
http://www.casadoceara.org.br/arquivos/Jornal/JornalAbril09/jornal.pdf em 18/11/2011
GONZAGA MOTA - GOVERNADOR

Ao chegar ao cargo maior do executivo estadual em 1983, Gonzaga Mota, o Totó, teve que assumir obedecendo aos critérios políticos, estabelecidos por força do Acordo de Brasília, que o obrigou a dividir os cargos do Governo em partes iguais e da seguinte forma: Virgílio Távora ficou com a Secretaria de Educação, de Administração e Interior; Adauto Bezerra, com a secretaria de Saúde, a de Agricultura e a dos Assuntos Municipais; César Cals ficou com a Casa Civil e a Procuradoria Geral do Estado.
Evidentemente que isso dificilmente poderia dar certo, até porque Mota também não era tão tolo de aceitar cargo de governador tão somente para assinar papéis. De início, ao nomear os secretários e assessores, colocou em posições estratégicas pessoas confiáveis, muitos deles disfarçados de coronelistas.
”...o Governador coloca vários “olheiros” de sua inteira confiança em posições chaves da administração. (JUNIOR, 1984, p. 71)
Não demorou muito para começar a rolar cabeças importantes dentro do governo, irritando principalmente partidários virgilistas queixando-se de que o governador havia traído o chefe.
Depois de várias demissões, o que intensificou a crise dentro do PDS que já vinha sensivelmente abalado e motivado pela própria política que vinha se desdobrando no país, Gonzaga Mota rompeu de vez com os coronéis e partiu com a intenção de fazer com que sua estrela brilhasse nacionalmente quando aderiu ao movimento que tratava das eleições presidenciais, unindo-se ao vice-presidente da república Aureliano Chaves e aos senadores Marco Maciel e José Sarney, com os quais fundou a Frente Liberal. Com essa atitude, demonstrava a sua independência política, sendo ele o primeiro governador do país a se definir contra o governo central. Isso fez com que o presidente Figueiredo lhe escrevesse um bilhete do próprio punho o chamando de pseudoamigo, em virtude de antes, Mota ter se manifestado a favor de Mário Andreaza, candidato do PDS à presidência da república.
Começou dessa forma o surgimento de uma nova facção política comandada pelo governador do Estado e, afora os que foram convidados também passaram a fazer parte do novo seguimento engrossando a fileira gonzaguista, aqueles que sempre estão dentro de todos os governos, não importa quem seja o chefe.
Com a liberdade anunciada e a declaração pública do governador dando conta do rompimento político com os que o apadrinharam, teve início a queda do poder político dos coronéis chegando ao fim o ciclo mais tirânico da história política cearense e Gonzaga Mota foi o último governante a transferir para o governo todos os compromissos impostos por patrocinadores de campanhas eleitorais.